Nossos Males e Seus Remédios
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Nossos Males e Seus Remédios


"Retirado en la paz de estos desiertos,
com pocos, pero doctos, libros juntos,
vivo en conversación com los difuntos
y escucho com mis ojos a los muertos"
Quevedo

Em 1963 o empresário carioca André Gama escreveu um pequeno livrinho chamado NOSSOS MALES E SEUS REMÉDIOS em que ensinava com meia dúzia de frases as causas de nossos problemas e como deveriam ser sanadas. Os capítulos desse livrinho de apenas 51 páginas possuem 1 ou 2 páginas. Foi uma cartilha para o povo ensinando o que era Custo de Vida, Salário, Produtividade, Capital, Capital Estrangeiro, Lucro, Dinheiro, Inflação, Prejuízos da Inflação, Finanças Públicas, Política, Democracia, Comunismo, Comunismo no Brasil, Nacionalismo, Monopólio Estatal, Política Salarial, Política Exterior, Reforma Agrária, Abastecimento, Reforma Eleitoral, Reformas de Base, Parlamentarismo, Reformas dos Homens e Conclusão.

A atualidade de seus argumentos surpreende o leitor depois de 50 anos. Exceto pelo dinheiro que era o cruzeiro, e uns poucos comentários específicos da época, todo o resto é válido e eficaz. Achando que deveria se repetido, selecionei alguns itens, especialmente sobre política devido a proximidade das eleições, para o leitor desse blog.


REFORMA ELEITORAL

Esta é uma reforma indispensável para um Brasil melhor. Quando falam em reforma eleitoral, os comunistas e pelegos querem somente o voto de analfabetos. Se temos visto que o eleitor alfabetizado é fácil de ser enganado por eles, então do eleitor analfabeto nem se fala. Mas a reforma eleitoral que precisamos é outra.

Um candidato a deputado federal tem de gastar geralmente acima de 5 milhões de cruzeiros para se eleger e às vezes muito mais. Ele tem que viajar por grande parte do seu Estado para fazer comícios, colocar faixas, distribuir cédulas e conseguir apoio para a sua candidatura. Se for um homem honesto, é muito difícil que tenha este dinheiro para gastar assim. Só se for muito rico e tiver muita vontade de ser deputado. Se for desonesto, vai fazer alguma marmelada para reaver o dinheiro que gastou. Feita a primeira marmelada, não pára mais. Se o candidato for apoiado por um sindicato grande, então não precisa gastar dinheiro. Basta prometer trabalhar pelo aumento de salários, que o próprio sindicato faz correr a notícia que o candidato da "classe" é fulano de tal. E é assim que vêm os aumentos de salários e os aumentos do custo de vida e o aumento da inflação.

A mesma coisa, em escala menor, sucede com o candidato a deputado estadual, e a vereador, mas não está certo. Este sistema favorece os desonestos e desfavorece os honestos.

O certo é dividir o território em distritos eleitorais, proporcionais à população, de modo que cada distrito elege os seus representantes locais e cada partido ou coligação apresenta apenas um candidato em cada distrito. Isto, e mais a cédula única, acabarão com a influência do dinheiro nas eleições proporcionais, e todos pràticamente terão a oportunidade de votar em candidato que conhecem, sabem onde mora, ou pelo menos tiveram oportunidade de ver, ouvir e julgar.

Outro inconveniente do atual sistema é que, se seu candidato não tiver votos suficientes para eleger-se, o seu voto será contado a favor de outro candidato, no qual você não votou e que talvez seja até um desonesto.

Com estas reformas, o número de candidatos e de confusão seria muito diminuído, as despesas dos candidatos também, e estes acabariam vindo à sua casa ou ao seu bairro, para conhecerem as suas idéias e expor-lhe as dele. Enfim, os nossos representantes junto ao governo acabariam representando de fato os nossos anseios e os nossos ideais. Nenhum representante teria coragem de votar uma medida inflacionária ou contrária aos nossos interesses, se soubesse que teria de enfrentar-nos pessoalmente e dar-nos conta dos seus atos, antes das próximas eleições.

É preciso reformar também o critério das imunidades parlamentares. Um senador ou deputado não pode ser processado por crime. Isto está transformando o congresso em refúgio de criminosos, que gastam milhões para se elegerem e assim ficarem a salvo da justiça.


REFORMA DOS HOMENS

Acho que já vimos neste estudo bastante provas de que a maioria dos nossos males é causada pela falta de capacidade, de sinceridade e de honestidade dos nossos governantes. Mas a culpa é nossa, porque somos nós que os elegemos com o nosso voto.

Veja só, às vésperas de cada eleição vem um aumento de salários. Agora virá o 13º salário, o horário de 6 horas para mulheres e mais uma porção de vantagens. Para quê? Só para nos dar uma alegria passageira na hora de votar. Passada a eleição, é que vamos perceber que fomos roubados. Mas antes das eleições, um candidato vem e diz que foi ele quem inventou aquele aumento. Outro vem e diz que ele também votou a favor. Outro vem e promete novas vantagens se for eleito. E na conversa de um deles você vai. E vota nele. E ele fica mais rico, e você fica mais pobre. E o trouxa é sempre você. Porque você vota sempre no sem-vergonha e deixa o candidato honesto e capaz falando sozinho. Está bem. Tudo isso é verdade. Mas como é que nós podemos saber quem é honesto e quem não é? Como é que vamos saber quem é competente? Como é que vamos saber quem é sincero? Todos os candidatos fazem promessas de dias melhores. Todos falam bonito. Todos falam mal dos tubarões. Todos têm pena do pobre trabalhador. Todos falam mal da carestia. Como é que vamos saber?

Vamos pensar em algumas regras:
1) Não deixe de Votar. — O voto é a única arma do povo.
2) Não Vote em Branco. — Informe-se o mais possível sobre os candidatos. Se não encontrar um realmente bom, vote no menos ruim.
3) Não Desperdice Seu Voto. — O voto que dermos a um parente ou amigo, ou qualquer candidato sem possibilidade de ser eleito, é contado a favor de outro, que você não sabe quem será, e que pode não prestar.
4) Não Se Impressione Com Oratória. — Um bom orador pode falar bonito e não dizer nada que preste. Outro pode não falar bonito mas ter ideias claras e sensatas.
5) Não vote em candidatos de sindicatos. — A função dos sindicatos não é meter-se em política. É orientar o trabalhador para ser melhor empregado, é defender o trabalhador contra injustiças, é melhorar as suas condições de trabalho, é lutar pela melhoria salarial, que seja justa e necessária sem provocar inflação. Além disto, a maioria dos sindicatos está nas mãos de comunistas e o que eles querem é levar-nos ao desespero do sofrimento até aceitarmos a revolução comunista. O que eles querem é fazer greves para atrasar o progresso e causar confusão. O que eles querem é fazer passeatas e começar quebra-quebra. Na confusão quem toma conta são os comunistas.
6) Não vote a pedido de ninguém. — Vote pela sua consciência e não para agradar algum parente ou amigo.
7) Não vote em comunista. — Ninguém aparece abertamente como comunista, mas sempre disfarçado. Você os pode conhecer pela linguagem deles. Falam de socialismo e de capitalismo, de monopólio estatal, de Fidel Castro, das reivindicações populares, do voto para analfabetos, dos monopólios estrangeiros, do capital colonizador, das reivindicações dos trabalhadores, do nacionalismo, de proletariado, de camponeses, e ligas camponesas. Quem fala muito nestes assuntos e com estes termos é quase certo que seja comunista ou influenciado por eles.
8) Não vote em quem promete muito. — Quem promete demais não pretende dar nada. E' vigarista. Está pensando só em si.
9) Não vote em candidato populista. — Este é aquele sujeito que anda exibindo-se como homem do povo, em mangas de camisa na hora que devia estar de paletó e gravata, que fala linguagem de gíria. Este indivíduo é geralmente perigoso. Não tem linha, não tem escrúpulos, só quer eleger-se para enriquecer.
10) Não vote em heróis populares. — O que quero dizer é que não devemos votar em alguém simplesmente porque está em evidência pública. Pelé, Garrincha e Ângela Maria, são artistas do futebol e do rádio, são heróis populares com justíssima razão, mas talvez não sejam bons vereadores, deputados ou prefeitos. Respeite e admire cada um no seu lugar, mas não no lugar errado.
11) Vote em gente instruída. — Nem toda pessoa instruída tem capacidade para governar, mas a pessoa com pouca instrução é obrigada a agir e a pensar por palpite e não por estudo.
12) Vote em gente sensata. — O bom-senso é indispensável para dirigir ou governar qualquer coisa. Só instrução não basta.
13) Vote em candidato honrado. — Eu já ouvi dizer: "Voto nele porque ele rouba, mas faz alguma coisa". Ou então: "E' verdade que ele enriqueceu no governo, mas ele fez isto e aquilo de bom". São eleitores assim que prestigiam a desonestidade. Se todos os nossos governantes fossem honrados, honestos e sinceros não haveria as bandalheiras que conhecemos, nem a falta de compostura nos postos de governo.
14) Peça conselhos de uma pessoa capaz. — Quando se trata de cargos municipais, às vezes conhecemos alguns dos candidatos suficientemente para formar uma opinião própria. Mas quando se trata de cargos estaduais ou federais, é quase certo que não conhecemos nenhum dos candidatos. Não sabendo quem é bom, peça conselhos a uma pessoa capaz e respeitada, que mereça a sua confiança.


MONOPÓLIO ESTATAL

Já vimos no capítulo anterior que os nacionalistas querem impedir os estrangeiros de explorarem os nossos recursos naturais. Mas eles querem mais ainda. Querem impedir também os brasileiros. Querem que estes serviços sejam explorados pelo Governo.

Alguns desses serviços já estão sendo explorados pelo Governo, como a F. N. M., o Lloyd Brasileiro, a Companhia Nacional de Navegação Costeira, quase todos os portos, a Rede Ferroviária Nacional, a Companhia Nacional de Álcalis, e mais algumas.

Pois bem. Estas empresas deveriam dar lucro ao Governo. Mas dão prejuízo. E o prejuízo do governo é prejuízo do povo. Seu e meu. Dão prejuízo porque prestam maus serviços e estão infestados de empregados políticos que não trabalham. E para justificar os grandes ordenados dos que não trabalham, é preciso pagar grandes ordenados também aos que trabalham. Conheço um moço que trabalha na Petrobrás. Ele foi meu colega na mesma empresa onde eu trabalho e que paga bem. Se ele estivesse aqui estaria ganhando 30 ou 32 contos por mês, como os colegas da mesma categoria. Na Petrobrás ele ganha 60 contos, salário que ele não poderia ganhar em nenhuma empresa particular.

O resultado disto é que o prejuízo destas empresas do Governo nos custaram 80 bilhões de cruzeiros em 1961 e vão nos custar cerca de 120 bilhões em 1962. Trocando tudo isto em miúdos, sabe quanto dá? Cada brasileiro, homem, mulher e criança paga Cr$ 1.700,00 por ano para pagar esses grandes salários das empresas estatais. O prejuízo destas poucas empresas estatais é o dobro do lucro distribuído por todas as empresas privadas do Brasil! Isto é uma coisa fabulosa I Algumas dezenas de milhares de firmas privadas distribuem lucros de 40 bilhões. Uma dezena de empresas estatais dão prejuízo de 80 bilhões!

Mas não é só isto. Além de darem prejuízo, às vezes aumentam brutalmente os preços. A Companhia Nacional de Álcalis produz soda barrilha, que é utilizada na fabricação de sabão, de velas, nas fábricas de tecidos e em muitas outras indústrias. Quando ela começou a funcionar em 1961, o preço da barrilha importada era de Cr$ 9,90 por quilo. O imposto de importação, que era de 10%, foi aumentado para 40% e só se pode agora importar com quotas, depois de se comprar toda a produção nacional. Com isto a barrilha nacional passou a custar Cr$ 43,00. E o pior é que a importação só pode ser feita pela Cia. De Álcalis, que vai importar a Cr$ 9,90 para vender a Cr$ 43,00. Quem paga por isto? E' quem gasta sabão e quem gasta tecidos. Somos nós.

Agora vem a Eletrobrás, que já foi decretada, que vai ter o monopólio da energia elétrica e vai ser explorada pelo Governo. É um erro tremendo que vamos cometer. Em primeiro lugar, porque vamos gastar bilhões de cruzeiros para comprar o que já é nosso. Isto é, para comprar as empresas que já estão instaladas e servindo ao Brasil de energia elétrica. Segundo, porque vamos pagar muito mais caro pela energia da Eletrobrás. Vai ser a mesma coisa que com a soda barrilha. O custo da energia vai dobrar, para pagar funcionários que não trabalham. Em terceiro lugar, porque o fornecimento de energia elétrica é um dos negócios menos rendosos que existe. São precisos oito contos de capital para produzir um conto de energia, ao passo que outras indústrias em geral só precisam de dois contos de capital para produzir um conto de mercadorias. Se o governo gastasse esse mesmo dinheiro em produzir outras coisas que nos estão fazendo falta, teríamos quatro vezes mais benefícios com o mesmo dinheiro. Mas acontece que o governo nem tem o dinheiro que pretende gastar. Vai emitir dinheiro falso [sem base monetária] e aumentar a inflação.

É isto mesmo o que querem os comunistas disfarçados de nacionalistas. Querem que a nossa vida se torne insuportável até o desespero, para permitir-lhes fazer a revolução comunista.

Monopólio Estatal é Ditadura. O Governo já tem poderes exagerados e perigosos. Pode nomear milhares de funcionários, sem concurso, para o serviço público, autarquias e Institutos, que ele enche de protegidos e pelegos. Ele tem o poder de emitir dinheiro falso [moeda sem lastro] e de propiciar negociatas para os seus amigos. Tem o poder de perseguir os opositores, de corromper e comprar consciências. Só lhe falta botar a mão nas fontes de produção e de riquezas, para tornar-se empregador único, colocar os seus pelegos em toda parte e assim estabelecer a ditadura total.

Monopólio Estatal é Comunismo. No momento em que o Estado se torna o único empregador e dono das principais fontes de riqueza, isto é comunismo. Ninguém é mais dono do seu nariz. Ninguém arranja emprego sem curvar-se ao patrão único, nem mudar de emprego, porque o patrão é sempre o mesmo. Desaparecem a liberdade e a justiça, porque o Estado tem o poder de impor a sua vontade. Desaparece até a religião, porque o Estado se transforma em religião.

Os comunistas querem o monopólio estatal, porque é comunismo já prontinho. Só falta o Partido tomar conta, dissolver as Forças Armadas e o Congresso, assassinar a oposição, chamar os Russos para levar o que quiserem e botar aqui o seu exército para garantir o Partido quando o povo se revoltar. Exatamente como aconteceu em Cuba. Até os candidatos a Fidel Castro já estão ensaiando o seu papel.





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