Negando Jesus
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Negando Jesus


Na passagem do IIº Jubileu do Cristianismo, uma abordagem do Jesus histórico, os dilemas que a Palestina judaica enfrentou na sua época, e as três outras negações que lhe moveram ao longo desse tempo
"Em verdade te digo: nesta mesma noite, antes que o galo cante, já me terás negado três vezes." - (Mateus, 26)

A Galiléia é a região das cem colinas que, partindo do promontório de Carmelo, à beira do Mediterrâneo, cobrem boa parte do norte da Palestina, terminando bem ao sopé dos montes do Líbano. Parece-se quase toda ela a um encrespado mar verde. As ondulações do seu solo contribuem para que as águas das chuvas escoem todas para o Lago de Genesaré, que os habitantes locais, num assomo de exagero tratam como o "Mar da Galiléia". Foi nas suas beiras, há quase dois mil anos, aproveitando-se de um auditório natural de excelente acústica, que Jesus Cristo pregou "O Sermão da Montanha" à multidão.




A vocação carismática dele, supõe-se, manifestou-se no seu batismo nas águas do Jordão pelas mãos do profeta João Batista. Tomado de êxtase, ele teria se retirado para o deserto a fim de testar-se. Lá passou 40 dias e 40 noites resistindo às dúvidas pessoais e ao Demônio (que inclusive lhe ofereceu o império do mundo, o que prontamente ele declinou). Convenceu-se então de que nascera para uma missão extraordinária. A saída quase que imediata dele das areias do deserto para a pregação nas cercanias das águas do Genesaré - o verdadeiro berço do cristianismo -, iria mudar a face do mundo ocidental.


Israel na época de Cristo

Israel naquele tempo era terra ocupada. Desde 63 a C. as legiões romanas de Pompeu, e depois as de Augusto, espalharam seus quartéis por todas as partes da antiga Palestina. Frente a isso os judeus se dividiam. Para alguns, bem pouco podia ser feito. Roma era o Imperium Mundi, o poder universal perante o qual um povo pobre e perseguido com os judeus só devia encolher-se sob seu escudo. Para outros, para os fariseus, conformar-se era traição. Pior, era heresia, pois os invasores idólatras profanavam com sua acintosa presença os lugares sagrados. Concentravam seu ódio nos herodianos - o rei Herodes o Grande, e seus filhos -, uma dinastia judaica disposta a servir como colaboracionista dos romanos.

A mensagem de Jesus


Cristo procurou sair desse impasse que dividia a sua nação de uma maneira extremamente original. Que convivessem com a ocupação romana ("daí a César o que é de César"), porque afinal das contas o que importava não eram tanto as coisas aqui da terra, mas sim a chegada eminente do Reino dos Céus. A tão esperada profecia de Isaias, de que o Reino da Paz estaria pronto a se instalar, finalmente ocorreria.

Minimizando as querelas locais, anunciou aos judeus e aos gentios a proximidade de um novo mundo aberto aos que se dispusessem a ser puros de espirito, aos que expurgassem de si a maldade, a cobiça, a luxúria e a violência. Que se desarmassem. Porque não perdoar até mesmo os agressores e os que moviam perseguição? Cristo, no seu extremismo de homem manso, deu-se ao exagero de dizer aos seus seguidores que oferecessem a outra face no caso de serem esbofeteados. Aos que se desesperavam pelas inseguranças da vida, assegurou que Deus tudo provê. Que tivessem filhos, que se multiplicassem, pois a sabedoria divina sabia muito bem em que hora iria oferecer-lhes o pão e o peixe.



O público de Jesus

O seu Evangelho pautou-se em dirigir-se aos marginalizados (aos doentes, as mulheres suspeitas, e aos humildes em geral), dizendo-os os "herdeiros da terra"; e também aos não-judeus, aos gentios, pois afinal todos eram criaturas de Deus. Além de Pedro, que embaraçado rejeitou ter alguma ligação com Cristo na noite da sua prisão, em três outros momentos, ao longo da história, também o negaram.
Primeiro Jesus foi negado pela sua própria gente: os judeus estavam a espera de um messias vingador, alguém que os livrasse dos romanos com um gládio em fúria e não um caridoso pacifista que lhes prometia a redenção num mundo etéreo a ser alcançado sabe-se lá onde.


Jesus torna-se inumano

Aceito o cristianismo como religião oficial do império romano, alguns séculos depois da sua morte, coube aos teólogos medievais reforçarem uma outra negativa a ele, a de Jesus Cristo não ter tido qualquer vestígio humano, apresentando-o como um Filho-de-Deus, concebido pelo Espírito Santo no ventre de uma mulher virgem, atingida por uma graça milagrosa.
E, por fim, uma das últimas e estranhíssimas restrições que ele sofreu foi da parte de alguns ideólogos anti-semitas, como a que, por exemplo, Schopenhauer lhe fez. O filósofo viu-o apenas como um arauto das doutrinas budistas perdido na Palestina, servindo apenas como um intermediário, entre tantos outros, da sabedoria oriental com a cultura ocidental. Aos anti-semitas, lhes era inaceitável a idéia de que um carpinteiro hebreu fosse o responsável pela conversão da Europa inteira. Portanto essas três outras negativas a Jesus Cristo rejeitaram ter sido ele messias, humano e judeu. Tudo o que de fato ele foi.

Seguindo o conceito de Voltaire Schilling



Sobre o Autor: Matheus Dias Caldeira
Facebook Meta Resumos Estudante de Direito e Blogueiro



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